A pele de tilápia tem ganhado destaque no campo da medicina como um biomaterial inovador, especialmente em cirurgias que corrigem a sindactilia – condição caracterizada pela fusão de dedos – em crianças com síndrome de Apert. Essa malformação congênita rara afeta cerca de 1 a cada 70 mil nascimentos e resulta em alterações craniofaciais e anomalias nas mãos e pés, como dedos unidos por pele ou ossos.
O procedimento, realizado no Brasil graças a uma parceria entre a Universidade Federal do Ceará (UFC) e o Hospital Sobrapar – Crânio e Face, utiliza pedaços de pele de tilápia para otimizar a recuperação de pacientes e melhorar os resultados cirúrgicos.
Pele de tilápia no tratamento de sindactilia e síndrome de Apert
A técnica consiste em aplicar a pele de tilápia na área cruenta (região sem pele deixada após a separação dos dedos) antes de realizar o enxerto definitivo com pele retirada do próprio paciente. Essa abordagem traz vantagens importantes, como:
- Melhor aderência do enxerto na área tratada;
- Redução do tempo de cirurgia e menor morbidade;
- Menor número de curativos no pós-operatório;
- Alívio da dor e diminuição dos custos do tratamento.
O biomaterial passa por um rigoroso processo de preparação que inclui desidratação, esterilização e irradiação, tornando-o seguro e prático para armazenamento e transporte.
O que é a síndrome de Apert?
A síndrome de Apert é uma condição genética causada por mutações que afetam o desenvolvimento ósseo, resultando em deformidades craniofaciais, como craniossinostose (fusão prematura dos ossos do crânio), e anomalias nas extremidades, como a fusão dos dedos das mãos e pés. Além das implicações estéticas, a síndrome pode gerar dificuldades respiratórias, auditivas e motoras.
O tratamento geralmente envolve intervenções cirúrgicas complexas para corrigir essas anomalias, melhorando a qualidade de vida e as funções motoras dos pacientes.
Vantagens da nova técnica
Antes do uso da pele de tilápia, o enxerto era feito com pele retirada do abdômen da criança, o que frequentemente resultava em perda do tecido enxertado e cicatrizes significativas. Com a nova técnica, o colágeno da pele de tilápia atua como uma matriz que prepara a área para receber enxertos mais finos, como os retirados do couro cabeludo ou do antebraço, reduzindo complicações e melhorando a estética do resultado.
Além disso, a aplicação da pele de tilápia diminui o risco de infecções, já que o biomaterial é desprovido de glicerol, componente que pode causar dor e reações adversas na área tratada.
Tecnologia e inovação a serviço da medicina
O uso de pele de tilápia começou como uma alternativa para curativos em queimaduras e feridas profundas, mas rapidamente se mostrou eficaz em outras áreas, como ginecologia e reconstrução tecidual em cirurgias plásticas. Sua utilização no tratamento de sindactilia e síndrome de Apert representa um avanço significativo na medicina, oferecendo mais conforto e melhores resultados para os pacientes.
Essa inovação reforça a importância de pesquisas contínuas e parcerias entre instituições médicas, trazendo soluções acessíveis e eficazes para condições complexas, como a síndrome de Apert e suas manifestações.